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AS TRÊS MARIAS - AUTORA: RACHEL DE QUEIROZ [RESENHA]



Título: As três Marias | Autora: Rachel de Queiroz
Editora: José Olympio | Ano: 1939 | 2018
Páginas: 259 | No Skoob

Olá pessoal !!! Dessa vez compartilho com vocês a indicação do livro de uma das minhas autoras favoritas Rachel de Queiroz. Já faz tempo que conheço o trabalho dela mas somente agora tive a oportunidade de ter em mãos o livro "As três Marias". Foi uma leitura muito agradável e acredito que vocês vão gostar de conhecer também...

SINOPSE
As três Marias, romance de Rachel de Queiroz, publicado originalmente em 1939, conta a história das três amigas Maria Augusta (Guta), Maria da Glória e Maria José, desde sua infância em um colégio de freiras até a vida adulta. A autora retrata o processo de ajustamento ao mundo pelos olhos das meninas e convida o leitor a acompanhá-las desde os medos e as incertezas da juventude quando ainda sonhavam com a liberdade além das paredes do internato e se abismavam com a cidade - até o passar dos anos e chegarem ao amadurecimento e aos dilemas da vida adulta. Sempre juntas, independente das escolhas do caminho. Maria da Glória dedicou-se à maternidade e à família, Maria José, sempre devota, voltou a morar com a mãe e virou professora, e Maria Augusta, diferente das amigas, determinou-se a construir o próprio caminho: voltou a morar com a família, mas, descontente, retornou para Fortaleza. Trabalhou como datilógrafa e, lá, apaixonou-se. É quando a autora permite-se ir mais fundo na perspectiva social e na agudeza da observação psicológica. E em nada estas três Marias perdem para as três estrelas da constelação de Orion, que se destacam alinhadas e reluzentes no céu e serviram de inspiração para apelidar as personagens de Rachel: notórias e brilhantes na lembrança de todos que as conhecem.


A nova edição de As três Marias conta com prefácio de Heloísa Buarque de Hollanda, também uma crítica com textos de Mário de Andrade e Fran Martins, e um encarte com fotos da autora e das amigas que inspiraram as personagens do romance. A capa foi muito bem escolhida, um quadro pintado com três moças de costas admirando a paisagem, me faz imaginar muitas situações que poderiam ocorrer a partir daí.

Passamos a conhecer a história das três amigas: Maria da Glória e Maria José através dos olhos de Maria Augusta, que narra em primeira pessoa. Me pareceu estar lendo o diário da própria autora em muitos momentos. Ela teria se inspirado em situações vividas com suas amigas Odorina e Alba respectivamente, da época que passaram internadas no Colégio da Imaculada Conceição em Fortaleza. 

Iniciamos a história quando Maria Augusta chega ao colégio e logo se ver em mundo rodeado de garotas diferentes, se sente sozinha, abandonada. A única que realmente se aproxima dela é Maria José logo do primeiro dia e que em seguida a apresenta a Maria da Glória, essa amizade entre as três vai cada vez mais se fortalecendo. O título "As três Marias". vem justamente de um momento no colégio em que a Irmã Germana, vendo a identificação que elas três tinham, as chama das três Marias pela primeira vez. O que é retratado numa passagem no livro,

"Foi a Irmã Germana, nossa mestra, quem sugeriu o apelido, chamando-nos pela primeira vez "as três Marias". Era num estudo da tarde, e, enquanto todo mundo lia ou escrevia seus pontos nos cadernos, Maria José, Glória e eu conversávamos segredinhos, sentadas lá para o fundo do salão. Irmã Germana entrou de repente, bateu secamente o sinal: - Maria José, Maria Augusta, Maria da Glória, por que não fazem silêncio? São as inseparáveis! Já notaram meninas? Essas três vivem juntas, conversando, vadiando, afastadas de todas! São as três Marias! Se ao menos vivessem juntas, como as três do Evangelho, pelo amor de nosso Senhor! Mas sou capas de jurar que perdem o tempo em dissipação..." (pág.46)
Cada uma delas tem seu modo de ser e de ver a vida a depender de sua origem, de sua personalidade. A autora vai nos mostrando em detalhes o local, seus pensamentos, aventuras, sonhos e segredos. Muitas vezes me peguei relembrando da época que eu ainda estudava no colégio, me fez lembrar das minhas próprias experiências, tive muita saudade das brincadeiras, das colegas, dos professores, passei sete anos estudando em um colégio de freiras também e lembro tanto das missas, das aulas de religião, das comemorações. Ainda mantenho contato com algumas das minhas amiga dessa época.


Maria Augusta, ou melhor Guta, nasceu no interior do Ceará e passou sua infância, perdeu sua mãe bem cedo com sete anos e cinco meses depois viu seu pai reconstruir sua vida casando e tendo mais filhos. Costumava chamar sua madrasta de madrinha. Ela mesma conta,

"Não tenho mãe e quem não tem mãe não tem família. Os meus moram tão longe, tem uma vida tão distante e separada! Mal conheço aqueles meninos lentos, redondos e chorões; aquela senhora gorda, sempre grávida ou sempre amamentando, que me recebe amavelmente quando chego nas férias, que nunca brigou comigo, que sempre foi cerimoniosa, oficial, correta, sempre me deu bons vestidos, bom colégio (ela priva os filhos em meu benefício), para que nunca ninguém diga que ela não é boa para mim porque não tenho mais mãe."(pág.57)

Ela nunca soube de verdade do que sua mãe tinha morrido. Ela guardava duas impressões da mãe, como divide sua vida em duas fases: uma da mãe viva, alegre, barulhenta e infantil que tomava banhos de chuvas juntas, e outra, dela morta, "finada Isabel", dois momentos completamente diferentes. Aos 12 anos Guta é mandada ao colégio interno de freiras, onde as alunas ficavam morando e aprendiam tudo o que era necessário para se tornaram mulheres de bem. Sentia falta da família, mas não se sentia fazendo parte deles.

Maria da Glória, tinha uma história muito triste também, ela era órfã de pai e mãe. A mãe morreu de parto com 16 anos ainda e nem a conheceu, ela sempre teve uma imagem idealizada que veio através do pai, que era muito devotado a ela. 

"Ficou o homem sozinho e desesperado, perdido na vida com aquela menina nos braços. Criou-a sem leite de mãe. Mas de mãe só lhe faltou isso. Porque o pai foi tudo para Glória, compensou-a de todas as ternuras enterradas, substituindo a morta, como se esperasse que ela voltasse um dia e lhe tomasse o lugar." (pág.29)  

Anos depois, dele também morre de uma doença séria. E como ele era bem de vida, cuidou para que sua filha continuasse tendo a melhor educação, e tivesse seu futuro financeiro garantido. Sofria muito com a ausência dos pais. Sua personalidade é descrita como imperiosa e autoritária, tinha um jeito que terminava dominando suas amigas. Costumava sentar-se sempre junta a Guta. Seu grande desejo era poder encontrar um marido e formar uma família, rogava sempre a santa que atendesse seu pedido.

Maria José, era uma menina muito boa e confidente. Guta confiava muito nela. Ela também tinha uma história de vida nada fácil. O pai vivia sempre ausente até abandonar a família para ficar com outra mulher. 

"O pai dela vivia ausente e Dona Júlia, a mãe, gorda e aperreada, governava tudo. Contava-se no colégio uma história complicada de separação, com outra mulher envolvida no caso - uma moça solteira que fora madrinha do menino mais moço e vivera metida dentro de casa como uma irmã. Agora morava junto com o marido de Dona Júilia, num chalé de Aldeota." (pág.49) 

A sua mãe teve que ficar a cargo dela e do seu irmão mais novo. Isso terminou gerando grandes traumas e a tornando cada vez mais apegada a mãe a religião.


Além delas, ainda existiam outras personagens que vão aparecendo ao longo da narrativa e participando de diversos momentos. Colegas de sala, órfãs e internas do colégio, as freiras e professoras. Todas vão deixando suas marcas na vida de cada uma, todas com histórias e personalidade diferentes que quebram com a ideia de que a vida em internatos são monótonas e só restritas a religião. Haviam na verdade uma explosão de sentimentos e comportamentos, menina que fugiu com o namorado, outra que se casou, ou aquela que se "perdeu" na vida; aquelas que contestavam sua realidade, outras que se calavam e eram doceis e submissas. 

Por exemplo, Teresa,
"Teresa fugira com o namorado, rapazola, tão jovem quanto ela, preso também pela família num internato. Eterno Romeu, eterna Julieta, mais uma vez se encarnaram e nasceram os dois namorados, viram a luz ambos nas mesmas verdes quebradas da serra Grande; na mesma escola aprenderam o abc, mas já então separados e inimigos, tomando cada um a sua parte no ódio velho que envenenava as suas gentes, desde anos e anos." (pág.76)
Ou ainda, Jandira,
"Jandira casou no dia em que fez dezoito anos. O altar estava enfeitado de rosas e lírios, e a noite trazia ao colo a fita azul das filhas de Maria, entre as sedas brancas e o véu. Nunca compreendi por que, se por desafio às tias, por vingança, zombaria, ou se por simples e humano enternecimento, Jandira fez comparecer a mãe à cerimônia, aquela mãe ignorada e inconfessável, causa de todas as suas humilhações." (pág.87)

Aqui, a narradora compartilha a história de uma das suas colegas, Jandira era filha adulterina, filha de pai casado e mãe da vida, mestiça e humilde. Vivia com com as tias, irmãs do pai, não era bem tratada pelos outros membros da família e os demais ao seu redor, por sua condição. Ela era uma menina cheia de sonhos, mas não sabia o que o destino reservava até conhecer seu noivo, tudo mudaria.  

Depois que as três Marias concluíram o colégio, cada uma, segue o seu destino. Maria da Glória se casa e tem seu filho. Maria José volta a morar com a mãe, vira uma religiosa fervorosa e se torna professora. Enquanto que, Maria Augusta ao voltar a viver com sua família, se sente sufocada, ela deseja muito mais da vida. Logo ela vai se desprendendo daqueles valores religiosos, e sente que necessita dar um novo rumo. 

Maria Augusta consegue um trabalho de datilógrafa e vai morar na casa de Maria José, começa a viver novas experiências e romances. Muito embora, ela tenha medo do mundo, dos homens, das incertezas do futuro, ela consegue enfrentar diversos obstáculos. No final, não senti grandes reviravoltas, na verdade me pareceu mais uma promessa de continuação, já que a vida não acaba ali, cada uma delas continua no seu caminho e ainda tem muito para descobrir da vida. 


Foi uma leitura que me trouxe muitas recordações, que me fez refletir sobre atitudes, as mudanças, sobre diferentes realidades. Não sabemos explicar quando ainda criança porque nos identificamos com alguns e antipatizamos os outros sem nenhum motivo aparente, porque encaramos a vida de um jeito enquanto outros não conseguem nos entender facilmente. Cada um tem sua própria história e pontos de vista que precisam ser levados em consideração. Esse foi um livro que nos ensina e nos impulsiona a novas descobertas. Com certeza, uma leitura que eu recomendo.  



Livro disponível nas principais lojas virtuais :


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= SOBRE A AUTORA =


Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, a 17 de novembro de 1910, filha de Daniel e Clotilde de Queiroz, descendente pelo lado materno da família do escritor José de Alencar. Em 1925 concluiu o curso normal no Colégio da Imaculada Conceição. Estreou na imprensa no jornal O Ceará, escrevendo crônicas e poemas de caráter modernista sob o pseudônimo de Rita de Queluz. Também lança em forma de folhetim o primeiro romance, História de um Nome. 

Aos vinte anos, ficou nacionalmente conhecida ao publicar O Quinze (1930), romance que mostra a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria. Demonstrando preocupação com questões sociais e hábil na análise psicológica de seus personagens, tem papel de destaque no desenvolvimento do romance nordestino.

Começa a se interessar em política social em 1928-1929 ao ingressar no que restava do Bloco Operário Camponês em Fortaleza, formando o primeiro núcleo do Partido Comunista. Em 1933 começa a ter dissenções com a direção e se aproxima de Lívio Xavier e de seu grupo em São Paulo, indo morar nesta cidade até 1934. Milita então com Aristides Lobo, Plínio Mello, Mário Pedrosa, Lívio Xavier, se filiando ao sindicato dos professores de ensino livre, controlado naquele tempo pelos trotskistas.

Depois, viaja para o norte em 1934, lá permanecendo até 1939. Já escritora consagrada, muda-se para o Rio de Janeiro. No mesmo ano foi agraciada com o Prêmio Felipe d'Oliveira pelo livro As Três Marias. Escreveu ainda João Miguel (1932), Caminhos de Pedras (1937) e O Galo de Ouro (1950).

Lançou Dôra, Doralina em 1975, e depois Memorial de Maria Moura (1992), saga de uma cangaceira nordestina adaptada para a televisão em 1994 numa minissérie apresentada pela Rede Globo. Exibida entre maio e junho de 1994 no Brasil, foi apresentada em Angola, Bolívia, Canadá, Guatemala, Indonésia, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, sendo lançada em DVD em 2004.

Publicou um volume de memórias em 1998. Transformou a sua "Fazenda Não Me Deixes", propriedade localizada em Quixadá, estado do Ceará, em reserva particular do patrimônio natural. Morreu em 4 de novembro de 2003, vítima de problemas cardíacos, no seu apartamento no Rio de Janeiro, dias antes de completar 93 anos.



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