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MAYOMBE | AUTOR: PEPETELA | ED. LEYA | RESENHA


 Título: Mayombe | Autora: Pepetela | Editora: Leya
Páginas: 256 | Ano: 2013 | Nota: ★★★★★

Olá !!! Dentro do Projeto Leituras de Vestibular, trago para vocês a resenha do livro Mayombe do autor angolano, Pepetela. Foi um dos primeiros livros africanos na língua portuguesa que tive o prazer de conhecer. A primeira vez que li foi ainda quando estava cursando História na Universidade, essa semana reli e vim compartilhar essa indicação aqui no Blog...


SINOPSE
Publicado originalmente em 1980, Mayombe foi escrito durante a participação de Pepetela na guerra de libertação de Angola, e retrata o cotidiano dos guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em luta contra as tropas portuguesas. O romance inova ao abordar não somente as ações, mas os sentimentos e reflexões daquele grupo, as contradições e conflitos que permeavam sua organização e as relações estabelecidas entre pessoas que buscavam construir uma nova Angola livre da colonização.

A história se passa na floresta do Mayombe, localizada em Cabinda, província de Angola na África, durante a guerra de libertação do país. Local onde os guerrilheiros tem uma base militar e planejam os ataques aos colonos portugueses. Angola foi por muito tempo colônia de Portugal. Em 1961 eclode a guerra de independência entre as forças independentistas de Angola (UPA/FNLA, MPLA e UNITA) e as Forças Armadas de Portugal, que até então dominavam a colônia angolana. 
A guerra durou por volta de 13 anos e terminou com um cessar-fogo em Junho (com a UNITA) e Outubro (com a FNLA e o MPLA) de 1974. A independência de Angola só foi estabelecida em 15 de Janeiro de 1975, com a assinatura do Acordo do Alvor.


Nossos personagens, são os guerrilheiros, identificados por seu nome de combate. Há um narrador onisciente que dá uma unidade ao enredo, mas este se intercala com as vozes de cada personagem em primeira pessoa que retrata os fatos que estão ocorrendo, suas experiências, seus pontos de vista sobre as motivações da guerra e seus conflitos interiores. 

Ao longo do livro podemos perceber também que a floresta do Mayombe representa um personagem com vida e importância na obra. Veja no trecho a seguir ainda na abertura do livro:


"As árvores enormes, das quais pendiam cipós grossos como cabos, dançavam em sombras com os movimentos das chamas. Só o fumo podia libertar-se do Mayombe e subir, por entre as folhas e as lianas dispersando-se rapidamente do alto, como água precipitada por cascata estreita que se espalha num lago." (pág.13)

Nessa imagem, vocês poderão ver um trecho, que eu considero um dos principais, quando Teoria se coloca como o fruto dessa mistura de raças, com dúvida quanto ao mundo que ele pertence. Filho de mãe angolana e pai português, num universo que não aceitam essa mistura de raças, com uma identidade ainda em construção, ele mesmo não consegue se reconhecer pertencendo a um ou o outro mundo. (pág.14)


Entre os principais personagens, se destaca também, Milagre que relata sua origem (Pág.34): 


Também, Mundo Novo que compartilha suas experiências de vida (Pág.78):



Assim como: Chefe de Operações, Comandante, Comissário, Muatiânvua, Pangu-A-Kitina, Sem Medo, Verdade. Não são descritos como heróis, e sim como pessoas comuns, com falhas como qualquer outras, não tem nada de heróis, mas que fazem a luta. Fica evidente a heterogeneidade que compõe o povo angolano e ao mesmo tempo, a luta para se formar uma identidade nacional. Discute-se ao longo da narrativa suas diversas visões ideológicas, os motivos pelo que está lutando e para quem. Todos trazem consigo o ideal da revolução comunista, lutam por mudanças, para que ela seja um país livre do domínio estrangeiro e o povo possa comandar suas próprias riquezas. 

O livro é dividido em 5 capítulos e 1 epílogo, o estilo literário é de um romance político. Em termos de acontecimentos, o autor narra um ataque a um caminhão português, como foi feito o planejamento e ação dos guerrilheiros. Se torna fácil imaginar como os fatos vão ocorrendo, as batalhas, os reféns que são ensinados sobre os ideais de luta. 

Há ainda a questão sobre o Tribalismo, quando se discute a qual cada pessoa pertence e suas rivalidades internas dentro do próprio grupo. De que tribo realmente pertenceria (kikongo, kimbundo, cabindas, lundas, umbundo, bailundos, tchokue, fiote ou kuanhama), as vezes fala mais alto do que o próprio ideal de lutar pela libertação da Angola. 

Outro ponto de destaque na Obra é a questão do papel feminino no contexto de guerra, como é que a mulher vê sua realidade e assume postos diferentes. A mulher é retratada como livre, desmistificando a imagem idealizada. Ondina e Leli são as duas mulheres que demonstram essa quebra de tabus, elas afrontam o homem ao mostrar seus desejos e agir em função de seus próprio ideais e convicções. 


"Em Mayombe, a mulher transita pelo mundo da política, da guerra e do golpe, enfim, o mundo masculino por excelência. Ondina, por conseguinte, tem plena consciência de que também deve fazer parte do embrionário processo revolucionário histórico, social e estético por que passa Angola. Essa adesão, porém, mostra-se mais complexa do que inicialmente poderia sugerir-se. Para essa mulher, aderir a um movimento revolucionário significa uma transformação que não se dará apenas na esfera superficial da sua existência como indivíduo: implicará em questões mais profundas e arraigadas no conjunto da sociedade; significa repensar e contestar o papel social reservado à mulher até então. Por tocar temas tabus nunca antes sequer discutidos pela sociedade, essa mudança manifestar-se-á de maneira mais radical e subversiva e, por isso, não encontrará respaldo no mundo masculino de seus iguais. "


Vemos também em destaque a questão da Educação como arma política. Em alguns momentos guerrilheiros criticam os intelectuais que teoricamente não saberiam o que a guerra significaria de verdade. Porém podemos ver no livro o quanto os líderes do movimento, seguindo ideal revolucionário comunista, dizem que os guerrilheiros devem receber educação já que seria através dela que não seriam dominados, que conseguirão ser alguém na sociedade quando a guerra acabar. Esse trecho mostra uma fala do Comandante Sem Medo:


" As pessoas devem estudar, pois é a única maneira de poderem pensar sobre tudo com a sua cabeça e não com a cabeça dos outros. O homem tem de saber muito, sempre mais e mais, para poder conquistar a sua liberdade, para saber julgar. Se não percebes as palavras que eu pronuncio, como podes saber se estou a falar bem ou não? Terás de perguntar a outro. Dependes sempre de outro, não és livre. Por isso, toda a gente deve estudar. Mas aqui o camarada Mundo Novo é um ingénuo, pois que acredita que há quem estuda só para o bem do povo. É essa cegueira, esse idealismo, que faz cometer os maiores erros. Nada é desinteressado."

Ocorre também outros fatos como a prisão do combatente quando trai o movimento e rouba dinheiro de um dos reféns; há a questão do avanço dos combatentes para um novo combate com portugueses; a traição de Ondina com um dos chefes do movimento que ficava na cidade e a desmoralização que se segue desse líder e sua saída do posto que ocupava.

Mayombe nos traz muitas informações importantes sobre a nação angolana e sua história, da forma como os próprios angolanos se enxergavam naquele momento. Um relato real, um momento de construções e desconstruções. Achei ótimo encontrar o livro na lista de indicações para o Vestibular. Uma leitura que com certeza vale muito a pena ser compartilhada e discutida.


RESENHA EM VIDEO



Livro disponível nas principais Lojas Virtuais:



SOBRE O AUTOR


Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido pelo pseudônimo de Pepetela nasceu em Benguela, Angola em 29 de Outubro de 1941. A sua obra reflete sobre a história contemporânea de Angola, e os problemas que a sociedade angolana enfrenta. Durante a guerra, Pepetela, lutou juntamente com o MPLA para a libertação da sua terra natal. Autor de obras como: As Aventuras de Ngunga (1972), Muana Puó (1978), O Cão e os Caluandas (1985), Yaka (1985), Lueji (1990), Geração da Utopia (1992), O Desejo de Kianda (1995), entre outras. Leia mais sobre Pepetela, clicando AQUI


ENTREVISTA COM PEPETELA
sobre Mayombe...



SITE OFICIAL DE ANGOLA
http://www.angola.gov.ao/

PROJETO LEITURAS DE VESTIBULAR E ENEM
Veja a lista completa das resenhas dos livros disponíveis 
clicando AQUI


Bons estudos a todos !!! 

14 comentários:

  1. Oie amore,
    Não conhecia até então o livro. Vou anotar a dica aqui, porque parece se tratar de um livro muito gostoso de ler.
    Adorei a resenha e as fotos, parabéns!
    Beijokas!

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  2. Parece ser um libro com um ótimo conteúdo mas não me interessei pela leitura. Gostei da sua resenha e de saber a sua opinião sobre a obra.

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  3. Quero muito ler esse livro e conhecer a escrita de Pepeleta. Já li Agualusa, Ondijaki, mas ainda me falta Pepetela. Bom, pelo o que pontou na resenha eu com certeza vou ao adorar. Essa literatura de cunho mais político promove uma reflexão profunda, principalmente em países que foram colonizado.
    Beijos

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  4. Primeira vez que vejo sobre esse livro, e já teve uma ótima impressão, com certeza seria um que eu leria.
    Achei legal que mostra a mulher como livre.

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  5. nossa,Lorena. Deve ser uma leitura incrível...fiquei bem interessada, já ouvi falar de Pepetela mas nunca tive chance de ler sua obra... e de uns meses pra cá, tenho buscado mais da literatura africana... esses trechos que você separou só me deixaram com mais vontade ainda hahah

    parabéns pela resenha ^^
    bjs ^^

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  6. Oieee
    Que indicação maravilhosa. eu conheço o livro, mas, INFELIZMENTE, nunca o li, falha minha, me minha formação como leitora crítica.

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  7. Não conhecia o livro, e por ter um conteúdo político, acabei me interessando pelo enredo.
    Bjs

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  8. Olá Lorena, tudo bem?

    Confesso que não conhecia o livro, é o meu primeiro contato com a obra e adorei a premissa, é uma indicação maravilhosa. Achei legal ter esse conteúdo político, fiquei de fato interessado. Dica anotada!
    Bjuss

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  9. Adorei a resenha, preciso ler logo esse livro! Já tinha vontade, agora ainda mais!
    beijos

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  10. Uau! Que história rica e interessante. Parece de fato um livro especial!

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  11. Oie!
    Nossa, que interessante sua resenha!
    Não conhecia nem o livro nem o autor. Mas, por algum motivo, esse tipo de leitura não me agrada. Talvez por ser real e forte, acabo passando longe. Prefiro livros mais leves e que me façam rir, sabe? Sou emotiva com a dor humana... :(
    Sua resenha está incrível!
    Bjocas,

    www.umdiamelivro.com.br
    www.youtube.com/literamigas4

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  12. Já tinha visto a capa mas não imaginei uma leitura assim, kkkk, ironias da vida né? Interessante, parece bem mais reflexivo do que a capa passa.

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  13. Oi, tudo bem?
    Apesar do livro ter uma premissa bem interessante, eu não o leria, não sou o público alvo.
    Bjs

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  14. Olá, não conhecia a obra e fiquei bastante interessada.
    Adorei a resenha.

    Abraços

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