OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - AUTOR: ÉRICO VERÍSSIMO - RESENHA

Título: Olhai os lírios do campo | Autor: Érico Veríssimo

Editora: Suma | Ano: 1938 / 2005 | Páginas: 284 

No Skoob | Nota: ★★★★★

Olá !!! Você lembra daquele livro que leu ainda na época escola e te marcou de alguma forma? Eu ainda lembrava de algumas passagens do livro quando decidi reler e compartilhar com vocês aqui no blog essa indicação. Sou da opinião de que, se você não dá um sentido a leitura, com o tempo ela termina se apagando da nossa memória, ao contrário daquelas que se tornam marcantes. Fico muito feliz em ter em mãos novamente esse livro e poder relembrar a história de Eugênio e Olivia.  

SINOPSE:

Eugênio Pontes, moço de origem humilde, a custo se forma médico e, graças a um casamento por interesse, ingressa na elite da sociedade. Nesse percurso, porém, é obrigado a virar as costas para a família, deixar de lado antigos ideais humanitários e abandonar a mulher que realmente ama. Sensível, comovente, "Olhai os Lírios do Campo" é um convite à reflexão sobre os valores autênticos da vida. 

A versão que eu adquiri é muito bonita, foi publicada pela Editora Companhia das Letras, uma capa que me fez viajar pela história, assim como as ilustrações em preto e branco nas primeiras páginas. Ótima diagramação.

Olhai os lírios do campo foi publicado pela primeira vez em 1938, durante o Movimento Modernista de primeira fase. A narrativa é em terceira pessoa. É um romance urbano e a ambientação é feita durante a década de 30 no Brasil. A sociedade daquela época se achava em acelerado processo de transformação, seja pelo desenvolvimento das grandes cidades, da afirmação da classe média, seja pela implantação do Estado Novo por Getúlio Vargas. 

O livro é dividido em duas partes. A primeira é narrada em formato de flash-back, onde as memórias de Eugênio vem à tona durante uma viagem que ele faz de uma cidadezinha no interior até Porto Alegre para encontrar Olívia que está doente. Passamos a conhecer sobre sua infância, a época da escola, o bullying sofrido, as primeiras ilusões, as dificuldades que enfrentou por sua condição financeira da família, o desejo de superação, a escolha da profissão de medicina por causa do status social e não pela vocação, assim como, quando conheceu Olivia e seu relacionamento.

A segunda parte trata do momento presente para o personagem. Mostra o processo de transformação para Eugênio, sua tomada de consciência sobre a vida, sobre seu casamento de interesse com Eunice, sua profissão, e principalmente sobre sua filha Anamaria que agora dependia exclusivamente dele. Ele volta a ser médico, trabalhando com os pobres junto com o dr. Seixas, e em meio a esta mudança de Eugênio, ele encontra verdadeiramente a paz interior.

Analisando nosso personagem principal, Eugênio Fontes. Ele é um homem pessimista e infeliz. Filho de um alfaiate pobre, teve uma infância e adolescência em meio a dificuldades. À medida que ia crescendo, sentia vergonha e repúdio a si mesmo por sua pobreza.Sua motivação  sempre foi "ser alguém na vida", adquirir uma boa posição social para não ter que passar por mais humilhações. Na faculdade, conhece Olívia no terceiro período, pela qual se apaixona e nutre um relacionamento de amizade, cumplicidade e amor. Não a vê como uma mulher bonita, nem feia, mas valoriza suas qualidade e passa a nutrir um sentimento de cumplicidade que começa a existir entre eles. Porém, devido a sua ambição, ele deixa Olívia para casar-se cm Eunice, uma jovem rica e influente. Passa a viver uma vida de aparências, adultérios e eternas contradições, deixando para trás seu verdadeiro amor e a filha que teve com Olivia, Anamaria.

O título da obra "Olhai os lírios do campo" é retirado do Sermão da Montanha, onde Cristo fala aos seus apóstolos, em uma analogia, que a verdadeira felicidade está em cuidarmos das coisas simples e não nos preocuparmos com as coisas complexas.

Nas palavras de Olívia: "Estive pensando muito na fúria com que os homens se atiram à caça do dinheiro.  É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época.  Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura.  De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles? (...) Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu.  É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza.  Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções.  E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu." (Trecho da carta de Olívia para Eugênio)

É uma leitura que continua ainda muito atual. É uma crítica social. E que também nos faz refletir sobre nossas próprias escolhas e o preço que pagamos quando nos submetemos ao dinheiro, aos interesses do mundo, a um relacionamento sem amor ou a uma profissão sem vocação, apenas pelo status social. Devemos tomar consciência do que realmente importa na vida, ao momento presente, as consequência dos nossos atos sobre nós e para aqueles ao nosso redor. Um livro que vale a pena ser conhecido e compartilhado.

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SOBRE O AUTOR

Érico Lopes Veríssimo nasceu em Cruz Alta-RS em 1905 e faleceu em Porto Alegre em 1975. Foi um dos escritores mais populares do século XX. Foi bancário e sócio de farmácia na juventude. Sua estreia literária foi na revista do Globo com o conto "Ladrões de gado". Em 1932 publica Fantoches e em 1933, Clarissa. Seu primeiro grande sucesso foi com Olhai os lírios do campo em 1938. Escreveu diversos outros livros, com destaque para Incidente em antares e O tempo e o vento que foram adaptados para TV.

CONTATO: 

aventuraliteraria@hotmail.com

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